O feminino e o relacionamento: o que realmente buscam as mulheres?
- Graciele Maria Welter
- 17 de ago.
- 3 min de leitura
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"O feminino é a capacidade de acolher, gerar e transformar"
Robert A. Johnson

Recentemente, ouvi uma história que me fez refletir sobre a essência do feminino. Uma mulher, vinda de um país onde os casamentos ainda seguem moldes muito conservadores, contou que aceitou se casar porque via no futuro marido um homem bom, capaz de lhe dar segurança, cuidado e a possibilidade de formar uma família. Ela dizia que se sente protegida, cuidada e nutrida. E, com uma sabedoria emocional rara, afirmou: “as mulheres confundem o que é o feminino”.
Essa fala ressoa profundamente no consultório, onde muitas mulheres chegam em busca de compreender a si mesmas e seus relacionamentos. Muitas vezes, o feminino é confundido com passividade, fragilidade ou submissão ou como oposição ao masculino na busca por igualdade de direitos. Mas, na verdade, o feminino, em sua essência, é uma força de vida, uma energia que nutre, cria, conecta e dá sentido.
O feminino como essência
Robert Johnson, em "She: A chave do entendimento da psicologia feminina", descreve o feminino como um princípio que não se limita ao gênero, mas que habita todos nós — homens e mulheres. No relacionamento, o feminino é aquilo que acolhe, que dá espaço para o outro ser, que mantém a conexão viva e profunda.
Clarissa Pinkola Estés, em "Mulheres que Correm com os Lobos", lembra que o feminino selvagem é instintivo, sábio e intuitivo. Não se trata de fragilidade, mas de saber ouvir a própria voz interior, reconhecer as necessidades da alma e não se perder em papéis impostos. Já em "A Ciranda das Mulheres Sábias", Estés reforça que o feminino maduro não tem medo de pedir cuidado, porque sabe que receber também é uma forma de força.
O masculino que sustenta e protege
Se o feminino é a energia que nutre e conecta, o masculino, em sua expressão saudável, é a energia que sustenta, estrutura e protege. Quando uma mulher diz que deseja um homem que cuide, que faça, que resolva, não está pedindo menos de si mesma, mas reconhecendo a complementaridade que existe nas relações. Estar em um relacionamento não significa abrir mão da própria autonomia, mas sim permitir que exista um espaço de troca real, onde o feminino pode florescer e o masculino pode oferecer direção e suporte.
Quando o feminino se confunde

No consultório, percebo que muitas mulheres, em busca de se afirmar, acabam acreditando que precisam se endurecer, assumir todas as funções, controlar tudo sozinhas. Confundem independência com isolamento, força com negação da vulnerabilidade. O resultado é exaustão, solidão e relações desequilibradas. O verdadeiro feminino não é negação do cuidado do outro, mas abertura para um vínculo que nutre, protege e fortalece.
O que realmente buscam as mulheres?
Relacionar-se de forma madura é reconhecer que tanto o feminino quanto o masculino são necessários. Quando o feminino se expressa de maneira autêntica, ele pede cuidado, e quando o masculino está saudável, ele oferece presença, constância e proteção. Essa complementaridade cria relações mais estáveis, vivas e verdadeiras.
Talvez, no fundo, o que buscamos não seja apenas “amar e ser amados”, mas poder habitar plenamente quem somos, sem medo de sermos frágeis em alguns momentos, fortes em outros, e inteiros na forma como escolhemos estar com o outro.
GRACIELE MARIA WELTER
Psicóloga Clínica CRP08/16992∞Pj04185
ESTÉS, Clarissa Pinkola. A ciranda das mulheres sábias: ser jovem enquanto velha, ser velha enquanto jovem. Trad de Waldea Barcelos. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.
______, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. 9. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
JOHNSON, Robert A. 1921. She: A chave do entendimento da psicologia feminina. Trad de Maria Helena de Oliveira Tricca. 9ª ed. São Paulo: Mercuryo, 1987.
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