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O Provedor de Ilusões e a Guardiã da Imagem




Alguns casamentos não são erguidos sobre a solidez do afeto, mas sobre o pacto silencioso das máscaras. Neles, não há espaço para a verdade, há apenas um acordo implícito: “eu sustento a ilusão, você preserva a imagem”.


O provedor de ilusões fabrica a narrativa e a guardiã da imagem preserva a vitrine.
O provedor de ilusões fabrica a narrativa e a guardiã da imagem preserva a vitrine.

O provedor de ilusões é aquele que fabrica a narrativa. Ele veste a persona do marido exemplar, do homem de família, do provedor respeitável. Sua fala é cuidadosamente calculada para sustentar a fachada. No entanto, por trás da máscara, a sombra trabalha sem descanso: desejos escondidos, compulsões negadas, contradições que se acumulam até transbordar. Ele mesmo é devorado pela distância entre aquilo que mostra e aquilo que realmente é.


Já a guardiã da imagem é aquela que, consciente ou não, protege a vitrine. O casamento, nesse papel, não é espaço de encontro verdadeiro, mas de manutenção da cena social. Ela fecha os olhos para o que não pode suportar, porque a verdade exigiria rupturas dolorosas. A raiva, em vez de se voltar para o comportamento do outro, se volta contra qualquer "ameaça externa" que arranhe a fachada. Seu compromisso não é com o desejo, mas com a aparência.


Nesse pacto, o desejo não encontra lugar limpo. O corpo pede, a alma anseia, mas o desejo é tratado como algo perigoso, sujo, inconfessável. Ele, dividido entre Eros (pulsão de vida/envolvimento) Thanatos (pulsão de morte / destrutivo), deseja e ao mesmo tempo odeia o objeto de desejo. Ama e teme. Busca e destrói. No espaço desse casamento, o desejo não se integra: ou é negado, ou é vivido às escondidas, sempre acompanhado de culpa e peso.


A sombra, nesses vínculos, se torna a verdadeira senhora da casa. Tudo o que não pode ser visto, é escondido atrás de portas fechadas. Mas a sombra não se deixa calar: ela aparece no olhar desconfiado, nas acusações projetadas, na raiva contra o outro, na exaustão após o prazer. A sombra é a presença constante que lembra que nada está realmente sob controle.


ilusão
Uma relação de ilusão onde todos acreditam no enredo que encenam

A persona, por sua vez, é o alicerce falso que ambos sustentam. Ele precisa ser visto como marido, pai, homem de respeito. Ela precisa ser vista como esposa de prestígio, guardiã da família. Juntos, constroem o teatro perfeito: uma vitrine onde todos acreditam no enredo que encenam. Mas quanto mais se apegam à persona, mais se afastam do Self, mais se perdem da verdade íntima que insiste em ser ouvida.

E assim, seguem unidos não pelo amor, mas pelo medo: ele, medo de ser descoberto; ela, medo de perder a imagem. Enquanto isso, o desejo que poderia ser fonte de vida e encontro é condenado à sombra, transformando-se em obsessão, raiva, vergonha e dor.


Porém o tempo é implacável com as máscaras. A vida sempre arranja um modo de expor o que foi negado. O provedor de ilusões, um dia, perde o controle da própria narrativa. A guardiã da imagem, um dia, já não consegue mais sustentar as cortinas. E quando a verdade rompe, ela chega como a Torre nos arcanos: um raio que destrói o palco, lembrando que só o que é real pode permanecer de .



GRACIELE MARIA WELTER

Psicóloga Clínica CRP08/16992


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